“Meu maior desejo era ter meu INPS (Instituto Nacional de Previdência Social)”. É o que responde José Airton Ponte, o Boris, quando questionado sobre as razões que o levaram a se formalizar. Dono das Óticas Boris, rede de 63 lojas, ele já viveu como um dos 620 mil trabalhadores que hoje são informais na Região Metropolitana de Fortaleza.
A formalização só veio depois que Boris vendeu água na estação de trem, bombom na porta do cinema, chinelos na feira e óculos na rua. Foi aí que deu início a Lojas Boris Ltda. Ele ainda guarda o registro da empresa, que funcionava num pequeno ponto na galeria professor Brandão, no Centro.
“Meu medo era da fome, de passar necessidade”. A Previdência serviu de estímulo para a formalização de Boris. Mas o que veio a partir daí foi muito mais que os R$ 2.600 que recebe hoje de aposentadoria – com 36 anos de contribuição.
A empresa cresceu e deu sustento à família. “Minha empresa sempre foi familiar. Porque eu tinha 10 irmãos desempregados, 20 sobrinhos desempregados”.
A preocupação com a família foi um dos estímulos à formalização e crescimento da empresa. Mas também foi para, aos 12 anos, a informalidade. O comércio do pai, em Sobral, faliu e ele viu o padrão de vida da família cair. “Perguntei se minha mãe tinha algum dinheiro. Ela me deu, eu comprei uma jarra e fui vender água na estação de trem”.
Só em Fortaleza – para onde veio depois que o pai conseguiu um emprego – começou a vender óculos. Primeiro, numa banca escorada em portas de lojas. Depois, vendeu uma casinha na rua Padre Valdevino e comprou seu primeiro ponto comercial.
“Ninguém quer ficar na rua. Quem compra na rua também gostaria de comprar na loja”, diz ele, que conta já ter tido a mercadoria tomada e ter sido levado por guardas algumas vezes enquanto era ambulante. Em seu escritório, hoje, tem uma quartinha. Ela serve para lembrá-lo, em momentos ruins, que a vida já foi mais difícil.
Fonte: O Povo